sexta-feira, 3 de abril de 2009

Satélites desvendam segredos maias


Imagens feitas do espaço pela Nasa ajudam a localizar novos vestígios desta cultura ancestral na Guatemala.
GUATEMALA, (Tierramérica).- Novos vestígios maias, ocultos sob a terra e uma densa floresta, são localizados na Guatemala pela tecnologia de satélites, revelando mais segredos desta cultura ancestral. Especialistas guatemaltecos, junto com acadêmicos e cientistas da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa), dos Estados Unidos, estão localizando novas ruínas na região de San Bartolo, no departamento do Petén, por meio de imagens feitas do espaço.“O trabalho arqueológico agora conta com o auxílio de fotografias tiradas por satélite”, explicou ao Terramérica Mônica Urquizú, subdiretora do Projeto Arqueológico Regional San Bartolo, dirigido pelo norte-americano William Saturno. Dos 20 arqueólogos envolvidos no programa, metade é guatemalteca e metade norte-americana. A equipe descobriu que existia uma relação entre a cor e o reflexo da vegetação, tal como se via nas imagens – com instrumentos que medem a luz comum e também cobrem o espectro infra-vermelho –, e a localização de conhecidos sítios arqueológicos.As imagens que indicam onde pode haver vestígios arqueológicos são analisadas e, em seguida, o local é visitado e são abertos poços de sondagem para obter o dado cronológico das ruínas, explicou Urquizú. O Projeto Regional San Bartolo envolve o Instituto de Antropologia e História do Departamento de Monumentos Pré-Hispânicos da Guatemala, o Centro de Vôos Tripulados da Nasa e as universidades norte-americanas de New Hampshire, Harvard e Yale.O programa se dedica à pesquisa integral dos vestígios na região, que inclui as estruturas arquitetônicas e os murais, para entender a cultura maia, que durou 3,4 mil anos (até o século 19), habitando o extremo sudeste do México, os territórios da Guatemala e Belize, e o ocidente de Honduras e El Salvador. Uma das descobertas mais importantes da arte maia ocorreu precisamente em San Bartolo. Trata-se de um conjunto de murais, os mais antigos conhecidos até a data, encontrado em um túmulo real por Saturno, em 2001, e apresentado ao público em dezembro.“Foi como descobrir a Capela Sistina sem saber que existiu o Renascimento”, disse Saturno durante a apresentação. “Isto marca o início da plástica guatemalteca”, explicou o ministro da Cultura, o indígena Manuel Salazar. Essa descoberta obrigou a repensar outros estudos que atribuíam as primeiras pinturas e hieróglifos maias ao período clássico tardio, entre os anos 550 e 900 depois de Cristo. Os murais nos “mostram que já havia uma sociedade bem organizada e consolidada, que estava interessada em pintar a origem do mundo”, disse Salvador Lóez, diretor do Departamento de Monumentos Maias do Ministério da Cultura.O mural principal, de nove metros por 90 centímetros, recria o nascimento, a morte e a ressurreição do deus milho, desenhado em quatro ocasiões com diferentes animais, oferecendo um sacrifício de sangue. Outros vestígios estudados em San Bartolo são o Grupo Jabalí, onde no ano passado se descobriu um peitoral de jade, um túmulo e vasilhas, que se supõem terem pertencido a um rei, contou Urquizú. Também estão o grupo habitacional Las Plumas, o da pirâmide Las Ventanas e o Palácio El Tigrillo. Urquizú adiantou que continuarão as pesquisas. “Se existe este sítio, que tem murais tão ricos, eles também devem ser encontrados em outras partes”, previu.A Nasa, que colabora com as imagens de satélite desde 2003, anunciou, no dia 17 de fevereiro, a continuidade de sua participação no projeto para resgatar outros vestígios maias. Além disso, se busca conhecer os motivos, até agora ignorados, do cataclismo dos maias, atribuído a secas e ao desmatamento.
* O autor é colaborador do Terramérica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.