terça-feira, 1 de setembro de 2009

“…que aquele que estiver no telhado…”


“Quando virdes, pois, a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo – que aquele que lê, entenda! – então, os que se encontrarem na Judeia fujam para as montanhas, aquele que estiver no telhado não desça para tirar as coisas de sua casa, e o que se encontrar no campo não volte atrás para buscar capa. Ai das mulheres que estiverem grávidas e das que estiverem amamentando nesses dias! Rezai para que a vossa fuga não se verifique no inverno ou em dia de sábado, pois nessa altura, a aflição será tão grande como nunca foi vista, desde o princípio do mundo até o presente, nem jamais o será. E, se não fossem abreviados esses dias, criatura alguma poderia salvar-se; mas, por causa dos eleitos, esses dias serão reduzidos.Então, se vierem dizer-vos “Aqui está o Cristo” ou “Ele está alí”, não acrediteis, pois hão de surgir falsos Cristos e falsos profetas; e farão grandes milagres e prodígios a ponto de desencaminharem, se possível, até os eleitos. Olhai que eu vo-lo predisse. Se vos disserem portanto, “Ele está no deserto”, não saias, ou “Ei-lo no interior da casa”, não acrediteis. Porque assim como o relâmpago parte do Oriente e brilha até ao ocidente, assim será a vinda do Filho do homem. Onde houver um cadáver, aí se juntarão as águias.
Logo após a aflição daqueles dias, o sol obscurecer-se-á, a lua não dará mais a sua luz, as estrelas cairão do céu e as forças dos céus serão abaladas. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do homem e todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vir sobre as nuvens do céu com grande poder e glória.”São Mateus, 24: 15-30
Não vos interpretarei hoje todas as predições que se encontram na longa passagem que acabo de ler-vos, haveria demasiadas coisas a explicar. Mas detenhamo-nos um momento na passagem em que jesus diz: “Logo após a aflição daqueles dias, o sol obscurecer-se-á, a lua não dará mais sua luz, as estrelas cairão do céu…” Os astrónomos dir-vos-ão, bem entendido, que isso não é possível, e têm razão: o sol, a lua e as estrelas de que fala Jesus devem ser compreendidos como símbolos.“O sol obscurecer-se-á”: o sol representa o intelecto humano que, afastando-se da verdadeira Ciência iniciática, constrói uma filosofia, uma ciência e pontos de vista errados, que a humanidade será obrigada a abandonar.“A lua não dará mais sua luz”: a lua representa o domínio do sentimento, da religião, e ela perderá a sua luz; isso quer dizer que a religião oficial, que fora estabelecida em bases falsas, superstições, preconceitos, perderá a sua influência.“As estrelas cairão do céu”: quer dizer que todos os que ocupam uma categoria, um lugar, ou que têm uma glória que não merecem, cairão de seu pedestal.Como vedes, há muitos símbolos a interpretar nesta passagem!Haveria também muito a dizer sobre a advertência referente aos falsos Cristos que poderão apresentar-se; com efeito, houve muitos seres ao longo da história que tentaram fazer-se passar pelo Cristo. Todavia, não se deve duvidar de que o espírito do Cristo se tenha manifestado através de todos os que tinham preenchido as condições para o receber, vivendo uma verdadeira vida espiritual. Pensar que, com excepção de Jesus, todos os grandes Mestres e Iniciados são impostores é cometer um erro muito grave.Hoje, contentar-me-ei em estudar um versículo a que geralemnte não se dá importância. jesus anuncia tribulações e diz: “Que aquele que estiver no telhado não desça para tirar as coisas da sua casa.” Porque não se deve descer do telhado? Se eclodir uma tempestade ou uma guerra com bombardeamentos, será que se está mais abrigado no telhado da casa? Não, por certo que não. Também o telhado da casa é aqui um símbolo e iremos ver de que maneira podemos interpretá-lo.
Reparai neste esquema: reconhecereis, aproximadamente, uma casa.Compõe-se de um triângulo e um quadrado reunidos. Na linguagem dos símbolos, o triângulo representa o espírito e o quadrado a matéria. O 3 é o número dos três princípios divinos – luz, calor e vida – e o 4 o dos quatro estados da matéria – sólido, líquido, gasoso e ígneo. Portanto, ao afirmar: “Que aquele que estiver no telhado não desça”, Jesus quis dizer que, quando das infelicidades e das tribulações, o homem não deve perturbar-se, não deve descer à matéria para se abrigar, mas permanecer em cima, no seu espírito.
Observemos agora o esquema da casa no espaço a três dimensões. Depois, planifiquemos os volumes: dum lado o corpo da casa, do outro o telhado.
Notareis que os dois volumes planificados representam duas cruzes diferentes: a primeira é chamada cruz latina, e a segunda cruz de Malta. Como sabeis, as pirâmides do Egito são feitas justamente duma base cubica enterrada no solo, encimada por um teto de quatro faces triangulares, que é a pirâmide propriamente dita. Portanto, uma das cruzes está sob a terra e a outra acima do solo. Não foi ao acaso que os grandes Iniciados do Egito escolheram a forma da pirâmide.
O Triângulo e o quadrado representam, pois, o espírito e a matéria. O triângulo, o 3, é tambéma graça, o amor, e o quadrado, o 4, é justiça. O amor é pois, colocado sobre a justiça, que lhe serve de base. Segundo a lei da justiça, devemos dar conta de cada um dos nossos actos. Segundo a lei do amor, quaisquer que sejam as nossas faltas, podemos ser salvos pela graça de Deus. Onde está a verdade?…
Quando od discípulos de Jesus lhe perguntaram, a propósito do cego de nsacença: “Quem pecou, este homem ou os seus pais, para que ele tenha nsacido cego?” Jesus respondeu: “Não é porque ele ou seus pais pecaram, mas para que as obras de Deus sejam manifestadas nele.” A resposta de Jesus revela um outro aspecto desta questão. Há casos em que nós não sabemos porque é que um ser sofre ou está enfermo. Será que aceitou sacrificar-se por outro?… Ignoramo-lo. Então, em vez de o considerar como um culpado que expia as faltas duma vida anterior, devemos ser muito reservados e abster-nos de qualquer juízo antes de sabermos com exactidão se ele cometeu crimes ou se se ofereceu para se sacrificar por ua razão que não conhecemos.É difícil conciliar a justiça e a graça e compreender como cada uma se manifesta. Na realidade, nenhum homem é digno de ser salvo, nem mesmo os melhores. Nós só somos salvos pela graça de Deus. Se estivéssemos submetidos somente á lçei da justiça, jamais seríamos admitidos no reino de Deus, porque, ao examinar o nosso processo, a lei encontraria sempre algumas dívidas que ainda não pagamos. A justiça é implacável, não se preocupa em saber se sois filho de rei ou iniciado.Podeis perguntar: “Mas se a justiça se cumpre sempre, quando é que se manifesta a graça?” Na realidade, se a justiça se cumprisse verdadeiramente ninguém seria considerado digno de vi ver. O céu alimenta-nos, envia-nos tudo o que nos é necessário, nós somos pensionistas que vivemos na abundância e, em vez de agradecer, cometemos faltas todos os dias. Se a justiça viesse actuar, reduzir-nos-ia a pó.A maior parte ds humanos, e mesmo teólogos de grande nomeada, apresentam a graça como uma manifestação arbitrária da divindade, que só faz o que lhe apetece sem ter de prestar contas a ninguém: quaisquer que sejam os erros ou as boas ações dum ser, se Deus quiser enviar-lhe a sua graça, enviar-lha-á. A graça e a justiça parecem pois, incompatíveis e, dada a idéia que até hoje se tem alimentado de uma e de outra, parece impossível conciliá-las. Mas eu mostrar-vos-ei que é possível: vereis que é muito simples.
A resposta está oculta no traçado da casa, essa casa em cujo telhado Jesus aconselha a ficar. Voltemos à cruz obtida pela planificação do corpo da casa: ela é formada a partir dum cubo. Representa pois, a matéria, a base, mas também bos limites, a prisão e , portanto, a justiça; é a cruz da justiça. A cruz formada pelas superfícies triangulares do telhado é a da graça, do espírito. Se uma pessoa se agarra à justiça, fica dentro do quadrado. Ora, como o quadrado representa a lei, os limites , a pessoa fica presa. Mas o novo Ensinamento do Cristo está acima da justiça, e é por isso que acima da cruz da justiça se encontra outra cruz, a da graça. A justiça deve pois, servir de suporte á graça.É interessante notar que muitas cruzes que são oferecidas como recompensa têm justamente a forma da cruz de malta. Inconscientemente, os homens trabalham segundo as leis da Natureza. Cada símbolo utilizado numa sociedade, cada forma de arquitetura, corresponde a uma certa evolução da filosofia, da compreensão, do saber e das mentalidades. Se se souber interpretar todos esses sinais, poder-se-á descobrir as tendências que se encontram por detrás deles. Um dia em que tenhamos um pouco mais de tempo poderei explicar-vos as razões pelas quais, ao longo dos séculos e nos diferentes países, certos povos deram esta ou aquela forma às suas casas e aos seus templos.Porque é que a pirâmide tem a base enterrada no solo? A pirâmide pretende indicar-nos como o 3, o nosso espírito, deve trabalhar na vida sobre o nosso corpo físico, o4, e como, graças ao espírito, isto é, á trindade do amos, da sabedoria e da verdade (ou se preferirdes, da esperança, da fé e do amor), nós poderemos transformar a nossa matéria. Mas para isso é necessári também compreender como o 3 se torna 4. Sendo o 3 o número de Deus, do espírito, e o 4 o da encarnação da matéria, as virtudes da trindade divina só podem encarnar no homem através desses 4 princípios que são o coração, o intelecto, a alma e o espírito; esses quatro princípios simbolizados pelo telhado da pirâmide têm por suporte o corpo físico, o cubo, e trabalham sobre ele.Mas voltemos à questão da justiça e da graça.Quando alguém quer construir uma casa, contrata operários, dá-lhes a planta e eles começam o trabalho… Mas imaginai que pouco depois essa pessoa verifica que o dinheiro de que dispunha não era suficiente para construir a casa. Apenas as paredess puderam ser construídas e a pessoa pergunta a sí própria como há de continuar. Há a base, as fundações, mas como fazer o telhado que falta? Dirige-se então a um banco: se este verificar que ela possui já algum capital, aceita emprestar-lhe uma certa quantia. O que é que isso significa? Será que o banco empresta a qualquer um? Não; mas se já se tiver um capital, um terreno, uma propriedade, o banco acrescenta o necessário.A graça vai para qualquer um? Não; ela vai para quem já preparou, já construiu alguma coisa e possui um capital. Ela diz: “Este ser trabalha, ora, medita, faz exercícios espirituais, construiu as paredes do seu templo; dar-lhe -ei, pois, com que fazer o telhado.” A graça vai onde já há alguma coisa construída, preparada. É o telhado sobre o corpo da casa, o triângulo sobre o quadrado. A graça de Deus pode assim visitar toda a gente, excepto os preguiçosos, os que não trabalçham, os que nada começaram. Ela irá àqueles que construíram as bases da sua existência, que trabalharam pela regeneração do seu ser por intermédio de uma alimentação pura, de sentimentos puros, de pensamentos puros. A graça é, pois, algo mais que a justiça, mas obedece, todavia, a uma certa justiça. Eis como a graça se co ncilia com a justiça.Quando Jesus dizia: “Que aquele que estiver no telhado não desça à casa para tentar levar alguma coisa”, ele pretendia dizer: que aquele que vive no eninamento da sabedoria, do amor e da verdade, quando estiver a passar por dificuldades, não desça à matéria para procurar auxílio, porque de nada lhe servirá; deve ficar no telhado. E que telhado é esse? Está nele mesmo, é o seu espírito, e ele não deverá descer, porque somente lá estará em segurança. E é também lá que se encontra a graça.
Trecho extraído do livro “Nova Luz Sobre os Evangelhos”
Publicado em Amor Sabedoria, Nova Luz sobre os Evangelhos

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